sábado, 25 de dezembro de 2010

A BUSCA OBSTINADA POR DEUS: O DEVER DE TODO O CRISTÃO EM 2011-UM CAMINHO SEGURO E DÓCIL.

Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água.(Sa.63.1)

Na década de 80 muitas pessoas de várias partes do Brasil migraram para um lugar desconhecido chamado, "Curionópolis" no Pará. Eles estavam em busca de algo que poderia mudar as suas vidas, tirar eles da pobreza e dar uma dignidade naquela época de vacas magras.

Graças ao senhor "Aristeu" que estava a serviço de "Genésio Ferreira da Silva" proprietário da fazenda Três Barras foi descoberto o garimpo do ouro em "SERRA PELADA", que foi considerado a maior mina de ouro a céu aberto do mundo.

A imensa cava coberta de lama, fazia aqueles homens trabalharem de sol a sol escavando, carregando sacos de barro de 20 kilos em busca do ouro. O trabalho era duro, desgastante, mais o sonho de buscar e achar o ouro fazia eles ficarem.

Seu "JOSE LOPES" um dos garimpeiros de SERRA PELADA em seu testemunho disse: "A primeira vez que me deparei com Serra Pelada TIVE VONTADE DE VOLTAR , MAIS O DESEJO DE BUSCAR O OURO E ENRICAR ME FEZ FICAR".

Os estudiosos dizem que Serra Pelada era um formigueiro humano, mais de 100 mil pessoas trabalharam na extração do metal precioso. A palavra "BAMBURRAR" no dialeto dos garimpeiros era achar ouro era "enricar".

Serra Pelada foi um modelo para o mundo todo de Busca, de utopia, de ir atrás do sonho, de pagar um preço alto em busca da felicidade, em busca do ouro.

Um dos fundamentos básicos da vida cristã é ter uma "vida de oração" e de "busca do Senhor". A Bíblia constantemente nos chama para mergulharmos na busca obstinado de Deus. Com isso ela nos dá promessas que podem enriquecer nosso relacionamento com o Todo Poderoso.

"Charles Spurgeon" o grande pregador inglés, falando sobre a "Busca de Deus" há um século atrás ele diz:

“Você quer esquecer sua tristeza? Quer livrar-se de seus cuidados? Então, vá, atire-se no mais profundo mar da divindade de Deus; perca-se na sua imensidão, e sairá dele completamente refrescado e revigorado. Não conheço coisa que possa confortar mais a alma, acalmar as ondas de tristeza e da mágoa, pacificar os ventos da provação do que uma busca uma meditação piedosa a respeito de Deus”.

A lei áurea do Reino de Deus é "Buscar ao Senhor enquanto se pode achar". Todas as vezes na história que o povo de Deus teve um senso simplesmente religioso e não buscou a Deus de todo o coração não ouve derramar de Deus e nem obediencia a sua Lei.

Mais todas as vezes que as pessoas buscaram a Deus Ele sempre se apresentou como um Deus, Poderoso,Santo, Misericordioso, disposto a livrar o seu povo, perdoar seus pecados, curar suas feridas etc. Todas as vezes que as pessoas buscaram a Deus, de todo o coração ouve impulso missionário, temor no coração, vida transbordante, confisão de pecado, compromisso sério com Deus etc.

O estudioso “Andrew Murray”, foi convidado para pregar na Conferência Missionária em Nova Iorque em 1900, ele não pode ir em virtude da guerra mais escreveu sobre a vida dos "Morávios" e sua busca obstinado por Deus. Os moravianos influenciaram a igreja com o seu impulso missionário e a sua busca obstinada por Deus.

Poderíamos aqui falar de homens que buscaram a Deus de todo o seu coração. Homens que nutriram na sua alma uma busca obstinada por Deus. O que dizer de "Johm Wesley, Zinzendorf, Moody,Edwards,Studd,Brainerd", etc.

A palavra "BUSCAR" tem sido uma das palavras mais usadas na nossa geração. Todas as pessoas estão em busca de algo. Por isso dedicam seu tempo, sua força e sua vida neste projeto transitório. Muitos estão em busca:

1) Dos seus sonhos
2) Em busca da Felicidade
3) Em busca de Oportunidades
4) Em busca de uma porta de emprego
5) Em busca de um curso universitário
6) Em busca de um concurso público
7) Em busca da casa própria
8) Em busca de poder
9) Em busca de academicismo

Deus também deseja que nós o buscamos de "Todo o nosso coração e força". Buscar essas coisas alistadas a cima não tem nenhuma conotação de pecado, pelo contrário elas fazem parte da vida humana. Porém o anormal e loucura é buscar essas coisas e esquecer completamente de buscar a Deus. Agindo assim estamos quebrando uma regra básica da fé cristã dita por Jesus Cristo: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e a outras coisas vos serão acrescentada”.

Nosso senso de prioridades devem ser claros. Primeiro devemos buscar a Deus e honrar e glorificar o seu nome. Segundo devemos nos dedicar a nossa família como expressão da graça de Deus. Terceiro, devemos nos dedicar ao trabalho como benção de Deus para a nossa vida. Quarto devemos nutrir uma vida de lazer em sua forma mais digna e nobre.

Depois da ascensão de Cristo a Igreja Primitiva começou a buscar profundamente o Senhor. Foi justamente nesta "BUSCA" que a Bíblia diz que Deus se derramou sobre eles. O teólogo Warrem Wiersbe em seu livro “O que Acontece Quando as Igrejas Oram” diz que:

"A primeira reunião da igreja de Atos dos apóstolos não foi de milagres, não foi de estratégia missionária, não foi de negócios, não foi de pregação. A primeira reunião desta igreja foi de “BUSCAR” o Senhor em Oração".

Foi por que eles buscaram ao Senhor de Todo o Coração é que Deus:

1) Derramou sobre eles o seu Santo Espírito
2) Derramou sobre eles sinais e maravilhas
3) Derramou sobre eles ousadia para anunciar a Cristo.
4) Derramou sobre eles temor, confiança,intimidade e convicção de pecado

Atos dos A,póstolos mostra uma igreja em profunda busca obstinada por Deus em oração e essa busca é visível nas suas vidas e testemunho missiologal.

Parece que a geração de cristão pós-moderno está andando na contra mão da história cristã, pois queremos, poder, vida feliz, experiência com Deus, sem buscar a Ele, sem dar á mínima para a sua Palavra.

Caímos na conversa fácil do nosso ego que só vir na igreja está ótimo, está bom. Caímos na conversa fácil da presa, pois não temos mais tempo para buscarmos ao Senhor. Muitos usam o jargão: "Isso na verdade é tarefa dos líderes e não minha".

As pessoas passam mais tempo na Internet em suas variadas formas do que buscando a Deus. Passamos mais tempo em nossos projetos pessoas do que buscando a Deus com fervor, dedicação e paixào nobre.

Quando estudamos a palavra "BUSCAR" na Bíblia percebemos, que ela aparece quase sempre no contexto ou em situação de "Crise", de "sofrimento", ou de profundo "deleite e regozijo" Vivemos também momento igual aonde as pessoas não estão buscando a Deus como deveriam buscar.

Não seria o momento de buscarmos arrependimento, de nos prostrarmos diante de Deus e mudarmos nossas atitudes religiosas?, parasitas, destituídas de paixão, de amor e zelo? Não seria por acaso o momento de buscarmos a Deus de todo o nosso coração, não importando se estamos no vale ou nos montes?

Somente nos dois livros de Crônicas o verbo "BUSCAR AO SENHOR", aparece "30" vezes. A Bíblia nos convoca para buscarmos a Deus de todo o coração?

Vejamos o que a Bíblia diz sobre isto.

1) Deut. 4.29 “ De lá, buscarás ao Senhor, teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma”

2) I Cr. 16.11-Sal.105.4 “ Buscai o Senhor e o seu poder, buscai perpetuamente a sua presença.

3) I Cr. 7.14 “ Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra. Estarão abertos os meus olhos e atento os meus ouvidos á oração que se fizer neste lugar. As marcas do verdadeiro avivamento: A) coração apaixonado por Deus b) Confissão de Pecado C) O mundo não me atraí mais D) coração apaixonado por pessoas.

4) Sal.9.10 “ Em ti, pois,, confiam os que conhecem o teu nome por que tu, Senhor não desamparas os que te buscam.

5) Sal.14.2-53.2 “ Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. (Jo. 4) Evan Roberts

6) Sal. 27.4 “ Uma coisa pedi ao Senhor e BUSCAREI que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida”.

7) Is. 55.6 “ Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, por que é rico em perdoar”.
8) Jer.29. 12-13 “ Então, me invocareis, passareis a orar a mim e eu vos ouvirei. Buscar-me eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração”.

9) Lam.Jer.3.25 “ Bom é o Senhor para os que esperam por ele. Para a alma que o buscam”
10) Am. 5. 6-8 “ Buscai ao Senhor e vivei; O Senhor é o seu nome”

11) Lc. 11.9 “Pedi, e dar-se vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se lhe á”

12) Mt. 6.33 “ Buscai, pois em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas vos serão acrescentadas”.

13) Cl. 3.1 “ Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, Buscai, as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado a direita de Deus

Quando olhamos o salmo 63, percebemos que ele foi escrito no contexto da revolta de Absalão filho de Davi. Ele retrata o desejo do salmista de buscar a Deus. O erudito Dr. Derek Kidner, diz que o título no texto canônico identifica o cenário desolado que deu origem a estes pensamentos, e a mensão do rei no V. 11 indica a ocasião em que Absalão, e não Saul, fê-lo refugiar-se no deserto de Judá.

O cansaço de Davi, em virtude da fuga se mistura com sua fé e sua busca obstinada por Deus , em meio as lutas e as diversidades da vida.

Este salmo real não é marcado por um estranho que esta tateando por Deus, o salmista conhecia o seu Senhor, e sabia que somente "Ele' é o nosso refúgio e refrigério.

Dr. Kindner , nos lembra que a simplicidade e a intrepidez de "Tu és meu Deus" é o segredo de tudo quanto segue, pois este relacionamento é o âmago da aliança, desde os tempos dos patriarcas até ao dia de hoje ( Gn.17.8;Hb.8.10).

Davi expressa a sua fé em Deus dizendo:

1) Ó Deus, tu és o meu Deus forte.
2) Eu te busco ansiosamente,
3) A minha alma tem sede de ti; o meu corpo te almeja,
4) O salmista expressa sua busca dizendo: "Tua graça é melhor que a vida".

Os homens de Serra Pelada enfrentaram todo aquele sofrindo em busca de ouro, alguns perderam a sua vida, outros nunca encontram nada.

Deus, convoca o seu povo para "BUSCAR" a sua face como fez Davi no "Deserto de Judá", pois Deus é melhor do que mil toneladas de ouro. Em Serra Pelada, alguns encontraram ouro, outros nunca encontraram, outros até hoje ainda sonha em encontrar, porém no Reino de Deus e na sua economia é diferente,pois todos que buscam ao Senhor, pela sua maravilhosa graça irão encontrar como temos visto nos capítulos acima.

Nosso Desejo é que todos nós em 2011, possamos estar enquadrado no salmo 24.6 que diz: “Essa é a geração dos que buscam a face do Deus de Jacó”. Que Deus nos ajude e nos de força para buscarmos a sua face, sua vontade e presença em 2011

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo - Feliz 2011

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

JONHANES BLAUW - A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA.

(Equipe Missionária brasileira no Chile e na Argentina - Foto tirada na Cordilheiras dos Andes com brasileiros, argentinos, chilenos e mexicanos)

Há convite do grupo de trabalho do departamento de estudos missionários, pelo conselho mundial de missões e pelo conselho mundial de igreja, o doutor Jonhanes Blauw tem dado uma grande contribuição para a igreja. Em seu livro A Natureza Missionária da Igreja, Blauw, aponta caminhos para uma sadia teologia bíblica de missões.

Ele mesmo diz que quando as missões não são consideradas como fenômeno histórico, mas como comissão divina, a questão de uma base bíblica e teológica da missão passa a ser importante A busca do motivo para a missão no A.T. era somente confinada á indicação de algumas pessoas não israelitas que foram incorporadas a Israel ou que lhe aceitavam a fé.

Para Blauw a teologia de missão, não pode se basear apenas na faixa estreita de alguns textos missionários, mas em todo o testemunho tanto do A.T. como o N.T. O autor inicia sua tese no A.T. mas precisamente em Gênesis 1-11, ele mostra que a criação foi instituída com base no homem e para o homem, mas o homem usou mal esta centralidade e não compreendeu a sua responsabilidade. Inicia então a culposa alienação de Deus.

Todavia em Gn. 12 com a chamada de Abraão e a história de Israel se dá então o começo da restauração da unidade humana perdida e da comunhão quebrada com Deus. Blauw então advoga que a história de Israel nada mais é do que a continuação do trato de Deus com as nações.

Rowley que é citado pelo autor diz que o propósito da eleição é o serviço. Eleição e escolha no A.T., para Israel é usada na forma ativa e não passiva. Na verdade a eleição de Israel não significa a rejeição das nações (Sal.67;86:9) A eleição de Israel não é um acomodamento mas ela tem um objetivo na qual se expressa em serviço "trazer o mundo a Deus". Sintetizando o A.T. juntamente com a figura messiânica que Blauw explica, o autor mostra que nos seus escritos Israel mostra uma mentalidade missionária centrípeta e a atividade missionária centrífuga.

O autor após trabalhar com A.T. nos arremete para o período Inter-bíblico, mostrando que neste lapso ouve uma atividade missionária judaica e que a igreja incipiente adotou e também substituiu. Abrindo a janela do N.T. ele mostra que á uma continuidade entre o testemunho do Antigo e do Novo com respeito as nações, todavia continuidade é bem diferente de identidade, pois o novo distingue do velho mesmo tendo ali suas raízes. No Novo a história da salvação está desabrochando (heilgeschichte).

A vinda de Jesus é de fato o cumprimento da expectação vétero-testamentário e seu sofrimento e ressurreição introduzem uma nova era. Isso deixa claro que Deus não abandonou o mundo, mas continua a sua obra. Assim a proclamação do evangelho é a proclamação da soberania de Cristo sobre as nações, e essa proclamação segundo Blauw é através do Espírito Santo, pois ele garante na Igreja a presença de Deus no mundo e a publicação do evangelho. Cristo é o fim do A.T. e o primogênito da nova criação, o fim de um mundo, e o começo de outro novo.

Ele é o ponto central da história, e a igreja de Cristo durante toda a sua existência é serva do mundo, enviada ao mundo. A comunidade existe para o mundo, porque é a comunidade de Jesus Cristo.

Johannes Blauw nos adverte dizendo para nós não esquecermos de que o grande primeiro motor da pregação do Evangelho não vem de fora (da necessidade do mundo), nem tampouco de dentro (do impulso religioso), mas de cima, como coerção divina (I Cor.9.16-23).

O livro é um clássico da teologia bíblica de missões e é recomendável. Johannes Blauw encerra seu livro trazendo a mente o texto de I Pedro2.9-10, deixando claro a grande responsabilidade da Igreja. "Enquanto é dia a comunidade de Cristo pode e deve proclamar os feitos de Deus".

Livro: A Natureza Missionária da Igreja - Editora ASTE

Resenha feita pelo
Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A.W.PINK - A SOLIDÃO DE DEUS.


O título deste capítulo talvez não seja suficientemente claro para indicar o seu tema. Isto se deve, em parte, ao fato de que hoje em dia bem poucas pessoas estão acostumadas a meditar nas perfeições pessoais de Deus. Dos que lêem ocasionalmente a Bí¬blia, bem poucos sabem da grandeza do caráter divino, que ins¬pira temor e concita à adoração.

Que Deus é grande em sabedo¬ria, maravilhoso em poder, não obstante, cheio de misericórdia, muitos acham que pertence ao conhecimento comum; contudo, chegar-se a um conhecimento adequado do Seu Ser, Sua natu¬reza, Seus atributos, como estão revelados nas Escrituras Sagra¬das, é coisa que pouquíssimas pessoas têm alcançado nestes tem¬pos degenerados. Deus é único na excelência do Seu Ser. "Ó Senhor, quem é como Tu entre os deuses? Quem é como Tu glorificado em santidade, terrível em louvores, operando maravi¬lhas?" (Êxodo 15:11).

"No princípio... Deus..." (Gênesis 1:1). Houve tempo, se é que se lhe pode chamar "tempo", em que Deus, na unidade de Sua natureza, habitava só (embora subsistindo igualmente em três pessoas divinas). "No princípio... Deus...". Não existia o céu, onde agora se manifesta particularmente a Sua glória.

Não existia a terra, que Lhe ocupasse a atenção, Não existiam os anjos, que Lhe entoassem louvores, nem o universo, para ser sustentado pela palavra do Seu poder. Não havia nada, nem ninguém, senão Deus; e isso, não durante um dia, um ano ou uma época, mas "desde sempre". Durante uma eternidade passada, Deus esteve só: com¬pleto, suficiente, satisfeito em Si mesmo, de nada necessitando.

Se um universo, ou anjos, ou seres humanos Lhe fossem necessá¬rios de algum modo, teriam sido chamados à existência desde toda a eternidade. Ao serem criados, nada acrescentaram a Deus essen¬cialmente. Ele não muda (Malaquias 3:6), pelo que, essencial¬mente, a Sua glória não pode ser aumentada nem diminuída.

Deus não estava sob coação, nem obrigação, nem necessidade alguma de criar. Resolver fazê-lo foi um ato puramente soberano de Sua parte, não produzido por nada alheio a Si próprio; não determinado por nada, senão o Seu próprio beneplácito, já que Ele "faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" (Efésios 1:11).

O fato de criar foi simplesmente para a manifestação da Sua glória. Será que algum dos nossos leitores imagina que fomos além do que nos autorizam as Escrituras? Então, o nosso apelo será para a Lei e o Testemunho: "... levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade; ora bendigam o nome da tua glória, que está levantado sobre toda a bênção e louvor" (Neemias 9:5).

Deus não ganha nada, nem sequer com a nossa adoração. Ele não precisava dessa glória externa de Sua graça, procedente de Seus redimidos, porquanto é suficientemente glorioso em Si mesmo sem ela. Que foi que O moveu a predes¬tinar Seus eleitos para o louvor da glória de Sua graça? Foi, como nos diz Efésios 1:5, ".... o beneplácito de sua vontade".

Sabemos que o elevado terreno que estamos pisando é novo e estranho para quase todos os nossos leitores; por esta razão faremos bem em andarmos devagar. Recorramos de novo às Es¬crituras. No final de Romanos capítulo 11, onde o apóstolo con¬clui sua longa argumentação sobre a salvação pela pura e sobe¬rana graça, pergunta ele: "Por que quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu pri¬meiro a ele, para que lhe seja recompensado?" (vers. 34-35).

A importância disto é que é impossível submeter o Todo-poderoso a quaisquer obrigações para com a criatura; Deus nada ganha da nossa parte. "Se fores justo, que lhe darás, ou que receberá da tua mão? A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justiça aproveitaria a um filho do homem" (Jó 35:7-8), mas cer¬tamente não pode afetar a Deus, que é bem-aventurado em Si mesmo. "...quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer" (Lucas 17:10) — nossa obediência não dá nenhum proveito a Deus.

De mais a mais, vamos além: nosso Senhor Jesus Cristo não acrescentou nada a Deus em Seu Ser essencial e à glória essencial do Seu Ser, nem pelo que fez, nem pelo que sofreu. É certo, bendita e gloriosamente certo, que Ele nos manifestou a glória de Deus, porém nada acrescentou a Deus. Ele próprio o declara expressamente, e não há apelação quanto às Suas palavra.; "... não tenho outro bem além de ti" (Salmo 16:2; na versão usada pelo autor, literalmente: "... a minha bondade não chega a Ti").

Em toda a sua extensão, este é um Salmo sobre Cristo. A bondade e a justiça de Cristo alcançou os Seus santos na terra (Salmo 16:3), mas Deus estava acima e além disso tudo, pois unicamente Deus é "o Bendito" (Marcos 14:61, no grego).

É absolutamente certo que Deus é honrado e desonrado pelos homens; não em Seu Ser essencial, mas em Seu caráter oficial. É igualmente certo que Deus tem sido "glorificado" pela criação, pela providência e pela redenção. Não contestamos isso, e não ousamos fazê-lo nem por um momento.

Mas isso tudo tem que ver com a Sua glória declarativa e com o nosso reconhecimento dela. Todavia, se assim Lhe aprouvesse, Deus poderia ter continuado só, por toda a eternidade, sem dar a conhecer a Sua glória a qualquer criatura. Que o fizesse ou não, foi determinado unicamente por Sua própria vontade.

Ele era perfeitamente bem-aventurado em Si mesmo antes de ser chamada à existência a primeira criatura. E, que são para Ele todas as Suas criaturas, mesmo agora? Deixemos outra vez que as Escrituras dêem a resposta: "Eis que as nações são consideradas por ele como a gola dum balde, e como o pó miúdo das balanças: eis que lança por ai as ilhas como a uma coisa pequeníssima. Nem todo o Líbano basta para o fogo, nem os seus animais bastam para holocaustos.

Todas as nações são como nada perante ele; ele as considera menos do que nada e como uma coisa vã. A quem pois fareis semelhante a Deus: ou com que o comparareis?" (Isaías 40:15-18). Esse é o Deus das Escrituras; infelizmente Ele continua sendo o "Deus desconhecido" (Atos 17:23) para as multidões desatentas. "Ele é o que está assentado sobre o globo da terra, cujos moradores são para ele como gafanhotos; ele é o que estende os céus como cor¬tina, e os desenrola como tenda para neles habitar; o que faz voltar ao nada os príncipes e torna coisa vã os juízes da terra" (Isaías 40.22-23). Quão imensamente diverso é o Deus das Escri¬turas do "deus" do púlpito comum!

O testemunho do Novo Testamento não tem nenhuma dife¬rença do que vemos no Velho Testamento; como poderia ser, uma vez que ambos têm o mesmo Autor! Ali também lemos: "A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, o único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver: ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém" (1 Timóteo 6:15-16). O Ser que aí é descrito deve ser reverenciado, cultuado, adorado.

Ele é solitário em Sua majestade, único em Sua excelência, incomparável em Suas perfeições. Ele tudo sustenta, mas Ele mesmo é independente de tudo e de todos. Ele dá bens a todos, mas não é enriquecido por ninguém.
Um Deus tal não pode ser encontrado mediante investigação; só pode ser conhecido como e quando revelado ao coração Espírito Santo, por meio da Palavra.

É verdade que a criação manifesta um Criador, e isso com tanta clareza, que os homens fi¬cam "inescusáveis" (Romanos 1:20); contudo, ainda temos que dizer com Jó: "Eis que isto são apenas as orlas dos seus cami¬nhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem pois en¬tenderia o trovão do seu poder?" (Jó 26:14). Cremos que o argumento baseado no desígnio, assim chamado, argumento apre¬sentado por "apologetas" bem intencionados, tem causado mais dano que benefício, pois tenta baixar o grande Deus ao nível do entendimento finito e, com isso, perde de vista a Sua singular excelência.

Tem-se feito uma analogia com o selvagem que achou um relógio e que. depois de um detido exame, inferiu a existência de um relojoeiro. Até aqui, tudo bem. Tentemos ir mais longe, porém. Suponhamos que o selvagem procure formar uma concepção pessoal desse relojoeiro, de seus afetos pessoais, de suas maneira, de sua disposição, conhecimentos e caráter moral — de tudo aquilo que se junta para compor uma personalidade.

Poderia ele chegar a imaginar ou pensar num homem real ___ o homem que fabricou o relógio — de modo que pudesse dizer: "Eu o conhe¬ço"? Fazer perguntas como esta parece fútil, mas estará o eterno e infinito Deus tanto mais ao alcance da razão humana? Real¬mente, não. O Deus das Escrituras só pode ser conhecido por aqueles a quem Ele próprio Se dá a conhecer.

Tampouco o intelecto pode conhecer a Deus. "Deus é espí¬rito..." (João 4:24) e, portanto, só pode ser conhecido espiri¬tualmente. Mas o homem decaído não é espiritual; é carnal, Está morto para tudo que é espiritual. A menos que nasça de novo, que seja trazido sobrenaturalmente da morte para a vida, miraculosamente transferido das trevas para a luz, não pode sequer ver as coisas de Deus (João 3:3), e muito menos entendê-las (1 Coríntios 2:14.

E mister que o Espírito Santo brilhe em nossos cora¬ções (não no intelecto) para dar-nos o "... conhecimento da gló¬ria de Deus, na face de Jesus Cristo" (2 Coríntios 4:6). E até mesmo esse conhecimento espiritual é apenas fragmentário. A alma regenerada terá de crescer na graça e no conhecimento do Senhor Jesus (2 Pedro 3:18).

A nossa principal oração e finalidade como cristãos deve ser que possamos "... andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus" (Colossenses 1:10).

EXTRAÍDO DO LIVRO OS ATRIBUTOS DE DEUS
EDITORA PES