sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

BEM - AVENTURADOS OS HUMILDES DE ESPÍRITO - MATEUS 5.1-12

Muitos dos que viram os milagres que o Senhor Jesus realizou convenceram-se de que ele era, realmente, o Rei que Deus havia prometido, que reinaria sobre a nação de Israel. Por isso lhe fizeram uma pergunta de suprema importância: "Somos suficientemente justos para entrar no teu reino?" Sabiam muito bem que o Antigo Testamento exigia justiça como base da aceitação de Deus; conheciam bem a declaração do salmista de que só os limpos de mãos e puros de coração poderiam estar na presença do Rei. Vieram, pois, para informar-se acerca da justiça que Jesus exigia para entrada em seu reino.

Nosso Senhor escandalizou a multidão que se compunha de devotos dos fariseus e com zelo buscava a justiça por eles ensinada, ao dizer-lhes: "Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus" (5:20). Se a justiça dos fariseus, que requeria rígida observância de 365 proibições e de 250 mandamentos, não era suficiente para introduzir os homens no reino do Messias, que tipo de justiça seria necessária?


O Sermão da Montanha expunha a santidade divina e as exigências de um Deus santo. Descreve o tipo de justiça que Deus espera dos que venham a conhecê-lo pela fé. Nessa parte do sermão, muito conhecida, amada e freqüentemente citada ― mas pouco compreendida ― que denominamos as Bem-aventuranças, nosso Senhor descreveu as características da pessoa justa e lançou os fundamentos de uma vida feliz. Mostrou o que caracteriza os que foram justificados pela fé na promessa de Deus. Também nos deu a base sobre a qual Deus dispensa suas bênçãos aos que o recebem como Salvador pessoal. Bem podemos denominar as Bem-aventuranças de "Fundamentos de uma vida feliz".

A primeira Bem-aventurança do Senhor está em Mateus 5:3: "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus." Só Deus é bem-aventurado. Ele é digno de receber bênção em virtude de sua santidade absoluta, inalterável. Quem foi abençoado por Deus é, deveras, feliz; a palavra traduzida por "bem-aventurado" nesta passagem bíblica seria mais bem traduzida por "feliz". Só Deus é digno de ser chamado bem-aventurado ou bendito por aquilo que ele é em seu caráter; mas Deus pode dispensar bênçãos ao homem. A pessoa que recebe bênçãos de Deus é, em verdade, um indivíduo feliz.

Freqüentemente se emprega a palavra "feliz" ou "bem-aventurado" no Novo Testamento para descrever a condição daqueles a quem Deus abençoa. Em João 13:17, ao concluir a primeira das grandes lições aos discípulos, ministrada no cenáculo pouco antes de sua morte, o Senhor voltou-se e disse: "Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes."

Em João 20:29 o Senhor emprega a mesma palavra ao dirigir-se a Tome: "Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram, e creram." Aquele que crê é verdadeiramente feliz.

Em sua primeira carta a Timóteo, Paulo emprega a mesma palavra, agora traduzida por "bendito": "Segundo o evangelho da glória do Deus bendito, do qual fui encarregado" (1:11). Aqui o apóstolo fala do contentamento que pertence a Deus em virtude de ser ele quem é. A infelicidade não se encontra em Deus. Visto que se trata de um Deus feliz, ele confere sua felicidade aos que crêem nele.

Também em Tito 2:13, falando da vinda de Cristo, o apóstolo diz: "Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus." É uma esperança que traz felicidade ao crente.

A palavra feliz, usada entre os gregos, em sua origem descrevia a condição dos deuses gregos que se supunha viverem satisfeitos, ou contentes, porque tinham tudo quanto desejassem e eram livres para gozar de tudo o que possuíam, sem restrições. Para a mentalidade grega, a felicidade relacionava-se com as posses materiais e com a liberdade de desfrutá-las. A felicidade deles tinha que ver com a gratificação irrestrita, ilimitada, dos desejos físicos. Uma vez que não se impunham limites às suas divindades, os gregos julgavam que os deuses eram felizes. Podendo viver com a mesma liberdade que atribuíam aos seus deuses, julgavam-se um povo feliz. A felicidade, para os gregos, relacionava-se com o mundo físico e material.

Porém, ao falar da felicidade, nosso Senhor relacionou-a com a santidade. Esse é o conceito bíblico; o Novo Testamento identifica a felicidade com pureza de caráter. A Palavra de Deus considera o pecado como manancial de miséria; a santidade, como fonte de paz, de satisfação, de contentamento ― tudo quanto incluímos na palavra feliz. Assim, quando o Senhor disse "Bem-aventurados os humildes de espírito", apresentou a primeira característica de santidade, geradora de santidade, e com isso lançou o fundamento de urna vida piedosa, feliz.

O Senhor mostrou o que deve caracterizar o homem que se diz santo, e a bênção que desce de Deus sobre aquele que recebeu o dom divino da justiça mediante a fé em Cristo. Quão significativo é que o Senhor tenha exaltado a própria característica que o mundo despreza, desvaloriza e considera sinal de fraqueza. O mundo não tem condições, jamais, de proporcionar o fundamento de uma vida feliz porque não pode produzir felicidade ― e esta não existe sem santidade.

A palavra "humilde", que nosso Senhor empregou em Mateus 5:3, é uma palavra muito interessante e descritiva. Para entender seu emprego, veja Lucas 16:19-22:

Ora, havia certo homem rico, que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e que todos os dias se regalava esplendidamente. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão.

A palavra que nos versículos 20 e 22 é traduzida por "mendigo" é a mesma que em Mateus 5:3 se traduz por "humildes". O mendigo era destituído de tudo, batido pela pobreza, sem recursos de nenhuma espécie. Humilde e mendigo derivam de uma raiz que significa "cobrir" ou "encolher". Era tão humilhante ao indivíduo confessar que nada tinha, e que por isso dependia de outrem, que o próprio ato de mendigar o rebaixava. Por isso é que o mendigo cobria o rosto, encolhia-se, acovardava-se quando estendia a mão para pedir uma esmola. Ele tinha vergonha de ser reconhecido.

Nosso Senhor não escolheu impensadamente esta palavra ao dizer: "Bem-aventurados os mendigos de espírito, bem-aventurados os paupérrimos espirituais, bem-aventurados os espiritualmente destituídos, bem-aventurados os falidos espiritualmente que se encolhem e se humilham por causa de seu total desamparo; porque deles é o reino dos céus." Em se tratando de coisas espirituais, humilde de espírito é o contrário, não da auto-estima, porém do orgulho espiritual. O que nosso Senhor condenou foi a auto-suficiência oriunda do orgulho espiritual.

O Novo Testamento relata que os fariseus eram intensamente orgulhosos, pois se consideravam justos; como justos, de nada necessitavam. Ouviram o Senhor Jesus oferecer a verdadeira justiça que vem de Deus, e repeliram-na. Esta palavra dirige-se a eles e aos seus seguidores. A pessoa que se caracteriza por orgulho espiritual não receberá de Deus coisa alguma; a bênção de Deus não pode descer sobre ela, porque o orgulho não serve de alicerce para a justiça. O orgulho espiritual não é demonstração de santidade mas de pecaminosidade; jamais pode produzir felicidade. "Bem-aventurados os paupérrimos espirituais, porque deles é o reino dos céus."

Humilde de espírito é aquele de quem foi retirada a base da auto-suficiência; é aquele cujo coração está ajoelhado. Tal pessoa caracteriza-se por uma atitude de total dependência. Neste caso, como em todas as Bem-aventuranças, o Senhor não instituiu um novo conceito. Pelo contrário, ele voltou-se para o Antigo Testamento, especialmente para os salmos, e reuniu o que a Escritura já havia ensinado com tanta clareza, de sorte que, valendo-se da Palavra de Deus, pudesse descrever a justiça e a santidade, oferecendo a base de uma vida abençoada, feliz.

O salmista escreveu: "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito não o desprezarás, ó Deus" (Salmo 51:17). E no Salmo 34:18: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido." Referindo-se ao coração quebrantado e contrito, o salmista não pretendia dizer um coração esmagado pelas privações, mas o coração que chegou ao fim de si mesmo, que não vê socorro algum em suas próprias forças, e clama a Deus por livramento.

Ao pronunciar: "Bem-aventurados os humildes de espírito", o Senhor dizia aos seus ouvintes, antes de tudo, como ter acesso a ele. Lucas 18:9-14 ilustra-o de modo muito vivido:

Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos por se considerarem justos, e desprezavam os outros: Dois homem subiram ao templo com o propósito de orar: um fariseu e o outro publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado.

Numa lição tão expressiva, o Senhor apresentou a verdade que havia demonstrado ao dizer: "Bem-aventurado os humildes de espírito." O fariseu desta parábola pôs-se em pé, num lugar público, para recomendar-se a Deus por seus méritos: "Não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda como este publicano." Controlado pelo orgulho, ele se recomendava a Deus, exigindo que Deus o aceitasse e ouvisse sua petição pelo que ele, fariseu, era. A seguir recomendou-se a Deus por aquilo que ele havia feito: "Jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto possuo." Esperava que Deus o abençoasse pelo que ele havia feito para Deus. Que exemplo de quem não possui humildade de espírito!

Por outro lado, havia um pecador confesso, encolhido, que clamava: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador!" "Deus, olha para mim como olhas para o propiciatório borrifado do sangue expiador." Este nada tinha que reivindicar para sua pessoa nem para sua justiça. Em sua pobreza e desamparo espiritual ele lançou-se inteiramente à graça e à misericórdia de Deus. Aí estava um homem humilde de espírito, e nosso Senhor disse: "Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha [que é humilde de espírito], será exaltado" (18:14).

O único caminho que o homem tem de acesso a Deus é ir ao Criador e confessar sua injustiça, sua incapacidade de satisfazer aos padrões e às exigências do Altíssimo; e, pela fé, reivindicar o sangue de Cristo que lhe cobre os pecados. Tal pessoa ― humilde de espírito ― é feliz porque abençoada por Deus.

Todavia, nosso Senhor não mostrou apenas o caminho de acesso a ele e ao seu reino, mas também o que caracteriza aquele que, em humildade de espírito, clama pela salvação de Deus. Sua vida, como filho de Deus, será marcada, momento após momento, por aquela mesma dependência completa de Deus.

Em Filipenses 3:3, Paulo revelou esta humildade de espírito ao escrever: "Porque nós... não confiamos na carne." E em Romanos 8:4-5: "A fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito." A pessoa que, segundo a carne, procura agradar a Deus, alega ter condições de fazê-lo. Em estado de orgulho procura agradar a Deus.

A única pessoa que agrada a Deus na vida diária é aquela que diz: "Ó Deus, não posso fazê-lo porque a carne é corrupta; mas confio total e completamente no poder sustentador do Espírito Santo em viver a vida de Cristo por meu intermédio."

Ao saltar do barco para ir ao encontro do Senhor, andando sobre as águas, Pedro começou a afundar; então clamou: "Senhor, socorre-me." Ele foi humilde de espírito. Quando Maria e Marta, dominadas pela tristeza com a morte de seu irmão Lázaro, enviaram um recado a Jesus para que viesse e às ajudasse, elas se revelaram mendigas de espírito. Ao reconhecer seu próprio desamparo e lançar-se confiante à graça de Deus e ao seu Espírito, a pessoa está renunciando ao orgulho espiritual e revelando a humildade de espírito que possibilita a Deus derramar bênçãos e mais bênçãos sobre sua vida.

Que temos nós para oferecer a Deus? Nada. Que tem Deus para dar-nos? Tudo. O que faz que as riquezas de Deus sejam nossas? Um pedido de socorro, um grito de dependência, uma confissão de nosso desamparo. "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus."

Extraído do livro Sermão da Montanha do Dr. Dwight Pentecost

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O SAPO E O SABIÁ: HISTÓRIA INVERSA E OS VERSOS DA VIDA.

- seu sapo é verdade que as crianças tem medo de voce? - sim, nao somente as crianças, mas também muitos adultos. Este preconceito imbutido na alma dessas pessoas a cada dia me sufoca, mas vou levando a vida do jeito que a vida é.

- Sabiá por que voce fez esta pergunta? Alguém te falou algo de mim? voce que fica cantarolando de árvore em árvore tem medo de mim também? - Nao sapo mané, tenho simplesmente pena de voce, para falar a verdade eu nao queria ser voce.

Por exemplo enquanto eu canto, voce pula e se esconde, enquanto dou voos rasantes, voce se amoita no canto e seu canto a noite é triste, no seu canto ninguém te ve e quando voce cisma em dar umas voltas pelas ruas ou casa dos vizinhos todos gritam com força: Um sapo, Um sapo, Um sapo, vamos pegar!

- escute bem sabiá Zezé: minha vida é boa, gosto de ser como fui criado, meu canto é minha voz de alegria, no meu canto descanso da correria, faz tempo que meu povo habita nesta terra, ja estamos acostumados com as grosserias, e saiba também que existem os bons momentos da vida que só entende quem é sapo como eu.

Os espantos das pessoas aceito como elogios, os gritos: um sapo, um sapo, vamos pegar... encaro como uma poesia; tudo que tenho que fazer é correr e quando nao dá finjo de morto ou entao pulo para o ataque. Geralmente nao sou objeto de carinho, ninguém nunca me colocou no colo ou me levou para um festival, o máximo que consegui foi ser lançado no mato ou do outro lado da rua, mas para mim tudo isso é celebração, é divertido, pois nao é sempre que voce tem um bando de pessoas ao seu redor tentando te pegar e levar para um lugar distante aos berros.

- É Sapo Mané suas palavras e o modo de voce ver a vida me causam admiração. Sua luta pela sobrevivencia é mais bela do que meu canto, mais altaneiro do que meu voo, sua experiência atada ao seu sofrimento e alegria são como pedras preciosas e como dizem os poetas: dentro de cada sapo existe um principe encantado.

Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Acampamento de Verão da ADI, é destaque em jornal da região da Amurel

A jornalista Carolina Carradore do JORNAL NOTISUL de Tubarão/SC, trouxe nesta segunda-feira (08/02/10) uma matéria falando sobre os retiros de carnaval que são realizados por diversas igrejas da cidade.

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Não é trio elétrico, mas arrasta multidões capazes de fazer inveja a qualquer escola de samba ou bloco carnavalesco. Os retiros espirituais organizados por igrejas evangélicas e católica agregam, cada vez mais, um grande número de pessoas que preferem buscar um outro tipo de diversão durante o reinado de Momo.

E para quem pensa que retiro é algo careta, está enganado. Sem abadás ou alegorias, os adeptos apenas preferem passar o feriado longe de bebidas alcoólicas, mas cantam, pregam o amor, oram, e ainda tiram tempo para se divertir como qualquer folião.

Acampamentos unem diversão e reflexão religiosa

A comunidade evangélica de Tubarão também aproveita o feriado de Carnaval para realizar grandes encontros. A Assembléia de Deus Independente (ADI), por exemplo, espera reunir 150 no Acampamento de Verão. A Edição deste ano será na Epagri de Araranguá.

O pastor Carlos Augusto Lopes explica que o evento une diversão e reflexão religiosa. “Nosso principal objetivo é trazer uma nova consciência a essa geração. Explicar que a vida não é só entretenimento, temos também que ter nosso relacionamento com Deus. Além disso, o evento é uma forma de resgatarmos aspectos sociais entre os jovens, pois não há bebidas alcoólicas”, detalha o pastor.


Casais que optam pela oração

O analista de sistemas Vladimir Farias Rosa, 43, e sua esposa, Vanessa Ceolin de Bona Rosa, são frequentadores assíduos dos retiros promovidos pela Assembléia de Deus Independente. “Nosso objetivo é buscar Deus. Todo ano que vamos recarregamos as baterias, renovamos as amizades e ficamos ainda mais unidos”, garante Vladimir.
O retiro, detalha o tubaronense, não é um evento apenas de oração. Também há espaço para um futebolzinho com os amigos, um vídeo e muita música, entre outras atividades saudáveis.

Vladimir já participou de vários carnavais e garante que um retiro espiritual vale por mil noites de folia no litoral. “Cantamos, dançamos e ficamos alegres como em qualquer festa, mas tudo sem bebidas alcoólicas. Nosso alimento lá é a fé em Deus”, completa.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A CABANA: REFLEXÃO NUMA ÓTICA TEOLÓGICA E NÃO POPULISTA.

Recentemente as igrejas evangélicas foram inundadas por exemplares do livro “A Cabana”, do canadense William Paul Young, filho de missionários em Papua Nova Guiné e formado em religião em Portland, no estado do Oregon, EUA.1

Apesar de ser um livro que, segundo o autor, foi escrito para seus filhos, ele tem assumido um lugar entre os livros didáticos que tratam das Escrituras e de Deus.
Além disso, não apenas o meio eclesiástico tem sentido a influência da estória2 de Young, mas também o meio secular. Diários famosos e conceituados como o “New York Times”,3 o “Washington Post”4 e o “USA Today”,5 deram atenção à obra e publicaram matérias reveladoras sobre seu impacto e alcance.

Sempre que uma obra toma esse vulto, principalmente dentro da igreja, os pastores têm a responsabilidade de analisá‐la com cuidado e atenção. Dispus‐me a fazer exatamente isso. Adquirir o livro não foi nenhum problema, pois está sendo vendido até mesmo em lojas de produtos eletrônicos. Depois de comprado, não foi nem difícil, nem demorado encontrar algum irmão que, notando o livro em minhas mãos, demonstrasse sua satisfação em me ver compartilhando com ele tal experiência. Depois de concluída a leitura, busquei ainda conhecer a reação de algumas pessoas ao livro. Dentre eles, um jovem disse ter notado algumas coisas estranhas que não entendeu muito bem, mas que, apesar disso, achou a leitura fantástica e empolgante. Um professor de Teologia de uma faculdade teológica de outro estado relatoume que a obra é positiva na quebra da visão machista sobre Deus e sobre o relacionamento da Trindade, além de fazer eco às aspirações populares por “formas religiosas mais palatáveis, diferentes da religiosidade oferecida pela religião oficial, normalmente baseada em tradições, moralismos e proibições.”

O LIVRO
Toda essa inquietação e euforia no meio evangélico é fruto de uma estória em que o personagem principal perde sua filha mais nova em um seqüestro e assassinato por um assassino de meninas. Esse fato horrível abre nele um espaço para o que chama de “Grande Tristeza” e um relacionamento frágil com Deus, a quem culpa por não evitar a tragédia. Isso perdura até que o próprio Deus o convida a voltar à cena do crime, uma velha cabana nas montanhas, e se apresenta a ele como uma cozinheira negra (Deus, o Pai), um carpinteiro israelita (Jesus) e uma mulher oriental (o Espírito Santo). Depois desse inusitado encontro, o que era uma narrativa envolvente se torna uma exposição das impressões e convicções do autor6 sobre as pessoas divinas dentro da Trindade, sobre o relacionamento entre eles e em relação aos homens, a condição humana, a salvação, a igreja, as Escrituras e a situação de Deus diante do mal.

Uma das primeiras coisas que notei ao chegar ao capítulo 5 do livro, onde realmente a visão do autor sobre Deus começa a ser exposta, é o desejo de quebrar paradigmas. O autor parece desconfortável com a visão sobre Deus e sua personalidade. Quando Young relata o espanto de Mack, um cristão criado dentro da igreja desde pequeno, com seu encontro com duas pessoas da Trindade em forma de mulheres, não acredito que o autor tenha tais concepções, as creio que seu desejo é que os leitores achem antiquada a postura de acolher conceitos tradicionais. O Pai, no livro, explica: “Para mim, aparecer como mulher e sugerir que você me chame de Papai é simplesmente para ajudá‐lo a não sucumbir tão facilmente aos seus condicionamentos religiosos.”7 Parece que o autor considera as visões tradicionais sobre Deus como “estereótipos” que não devem ser encorajados8 e como “idéias preconcebidas” nas quais Deus não se encaixa.9 Em pouco tempo, Mack se dá conta de que “nada do que estudara na escola dominical da igreja estava ajudando”10 a compreender o Deus que estava diante dele. Parece ser sugerido que o leitor deve ficar aberto a novos conceitos. O conselho do Espírito Santo a Mack é: “Verifique suas percepções e além disso verifique a verdade de seus paradigmas, dos seus padrões, daquilo em que você acredita. Só porque você acredita numa coisa não significa que ela seja verdadeira. Disponha‐se a reexaminar aquilo em que você acredita.”11 Assim, novos conceitos são inseridos.

ESCRITURAS
Um desses conceitos é uma visão depreciativa sobre o ensino bíblico. Por diversas vezes as Escrituras, ou o ensino eclesiástico das Escrituras, é citado em contraposição a uma nova verdade apresentada pelas pessoas da Trindade. Exemplo disso é que Mack, apesar de ser umcristão que sempre vai aos cultos e recebe instrução bíblica, se dá conta de que não conhece Jesus como achava que conhecia. Diante disso, Jesus lhe transmite um conhecimento que nunca antes lhe foi ensinado: “Deus que é base de todo ser, mora dentro, através e em volta de todas as coisas, e emerge em última instância como o real. Qualquer aparência que mascare essa verdade está destinada a cair.”12 A Bíblia, que certamente não apresenta essa versão “panteísta” ou “panenteísta” da Divindade, fatalmente se torna alvo dessa afirmação. Na verdade, ela sofre a sugestão de ser um instrumento que não contém a verdade, mas que é usado por Deus devido à complexidade da situação humana depois de se afastar dele. O Pai, ao responder por que se “revela” de modo paterno, diz: “Assim que a Criação se degradou, nós soubemos que a verdadeira paternidade faria muito mais falta que a aternidade.”13 Assim, Mack percebe que ao sair da escola dominical, onde as Escrituras são ensinadas, freqüentemente tinha “as respostas certas”, mas que isso não fazia que ele conhecesse a Deus.14 Fica sugerida a idéia de que a Bíblia contém inverdades devido às limitações e carências do homem. Entretanto, há verdades além dela que o homem que se relaciona com Deus pode alcançar. Por isso, no momento em que Deus fala a Mack sobre verdades nunca antes por ele imaginadas, explica em tom depreciativo: “Aqui não é a escola dominical. É uma aula de vôo.”15

IGREJA
A igreja é mais uma vítima da obra de Young. Sob a égide da religião ela é acusada de manipular os fiéis por causa da cobiça e desejo de poder dos seus líderes. Como instituição ela é fonte de contrariedades para Jesus, que afirma: “Eu não crio instituições. Nunca criei, nuncacriarei.”16 Para que não fique dúvidas sobre o sentido dessas palavras, Jesus completa em meio a uma expressão sombria: “Não gosto muito de religiões e também não gosto de política nem de economia... E por que deveria gostar? É a trindade de terrores criada pelo ser humano que assola a Terra e engana aqueles de quem eu gosto.”17 Ao vislumbrar com assombro tudo o que aprendeu no passado, Mack exclama: “Quantas mentiras me contaram!”18 Jesus completa a decepção de Mack respondendo uma pergunta sobre o significado de ser cristão com as palavras: “Quem disse alguma coisa sobre ser cristão? Eu não sou cristão.”19 Um dos motivos do desprezo de Deus pela estrutura eclesiástica seria a presença nela de uma hierarquia, ou uma “cadeia de comando”, o que, mesmo na divindade, parece ser um conceito “medonho” e um relacionamento “opressivo.”20 Jesus explica que a autoridade “é meramente a desculpa que o forte usa para fazer com que os outros se sujeitem ao que ele quer.”21 E completa dizendo: “É um sistema humano. Não foi isso que eu vim construir... Por mais bemintencionada que seja, você sabe que a máquina religiosa é capaz de engolir as pessoas!”22

SALVAÇÃO UNIVERSAL
Salvação universal, ou universalismo, é outra idéia apresentada por Young. Significa que todos, sem exceção, serão salvos por Cristo. Diferente de outros pontos, este se mostra clara e abertamente no livro e começa a se delinear quando Mack se surpreende ao ver o grande amor do Pai pelas pessoas. Diante disso ele pergunta se há alguém de quem o Pai não goste. A resposta é: “Não, não consigo encontrar ninguém. Acho que sou assim.”23 Isso sugere, que Deus se relaciona bem com todos os seres humanos independente de qualquer condição. Entretanto, o que é, a princípio, apenas uma sugestão, se expande quando Jesus é questionado se todas as estradas levam a ele. Jesus responde que, no processo de tornar as pessoas filhos e filhas do Pai, “a maioria das estradas não leva a lugar nenhum. O que isso significa é que eu viajarei por qualquer estrada para encontrar vocês.”24 Assim, em meio a um certo sarcasmo, explica: “Os que me amam estão em todos os sistemas que existem. São budistas ou mórmons, batistas ou muçulmanos, democratas, republicanos e muitos que não votam nem fazem parte de qualquer instituição religiosa.”25 Apesar da clareza com que o universalismo é exposto aqui, o autor parece não ficar satisfeito e deseja garantir que atingiu seu objetivo. Assim, o Pai diz a Mack que “a morte dele [Jesus] e sua ressurreição foram a razão pela qual eu agora estou reconciliado com o mundo.” Mack pergunta: “Com o mundo inteiro? Quer dizer, com os que acreditam em você, não é?” O Pai responde: “Com o mundo inteiro.”26 Dito isso, explica que cabe ao homem apenas escolher se quer ou não se relacionar com Deus: “Em Jesus eu perdoei todos os humanos por seus pecados contra mim, mas só alguns escolheram se relacionar comigo.”27 Em lugar de salvação, o livro “A Cabana” dá ênfase ao relacionamento com Deus. Estando todos os homens salvos, o que resta é terem união com a Divindade. O Pai deixa isso claro dizendo: “A liberdade é um processo que acontece dentro de um relacionamento com ele [Jesus].”28 Segundo Young, esse relacionamento pode ter muitas vias, mas a melhor delas é Jesus, que diz: “Eu sou o melhor modo que qualquer humano pode ter de se relacionar com Papai [o Pai] ou com Sarayu [Espírito Santo].”29 Questionado sobre como um homem pode fazer parte da Igreja de Deus, Jesus responde: “É simples, Mack.

Tudo só tem a ver com relacionamentos e com o fato de compartilhar a vida.”30 O relacionamento que o autor apresenta é muito convidativo. Deus é alguém agradável, bem‐humorado e de fácil convivência. Entretanto, o relacionamento apresentado segue um modelo onde não há diferença entre os participantes. Deus é um grande amigo, mas não é Senhor. Deus é irmão, mas não é Rei. Deus é amoroso, mas não é soberano. O Pai explica: “Criamos vocês, os humanos, para estarem num relacionamento de igual para igual conosco e para se juntarem ao nosso círculo de amor.”31 Deste modo, a falta de fé não é o que impede a união do homem com Deus, mas a falta do conhecimento que possibilite o relacionamento. Sob essa ótica, o Pai aponta o “verdadeiro” problema: “A verdadeira falha implícita na sua vida... é que você não acha que eu sou bom. Se soubesse que eu sou bom e que tudo... é coberto por minha bondade... confiaria em mim... A confiança é fruto de um relacionamento em que você sabe que é amado.

Como você não sabe que eu o amo, não pode confiar em mim.”32 “Não sou um valentão nem uma divindade egocêntrica e exigente que insiste que as coisas sejam feitas do jeito que euquero.” 33 Essas frases realmente enchem os corações daqueles que desejam um relacionamento sem compromissos com o Senhor. É o anseio de quem deseja os benefícios da amizade de Deus sem ter que se amoldar ao seu caráter ou à sua vontade para tanto. Não há submissão do homem a Deus. Jesus diz: “Submissão não tem nada a ver com autoridade e não é obediência. Tem a ver com relacionamentos de amor e respeito. Na verdade somos
igualmente submetidos a você.”34

CONDUTA E CONDENAÇÃO
Duas idéias desprezadas por Young são a existência de um padrão de conduta para os que se relacionam com Deus e a condenação daqueles que não seguem o caminho estipulado pelo Senhor. Para transmitir essa opinião, a narrativa expõe o Pai dançando e se remexendo ao som da música de uma banda de nome Diatribe, cujo significado é de um discurso crítico e agressivo vindas de uma postura rebelde. Mack, surpreso, diz que isso não parece muito religioso. O Pai, ainda bamboleando e batendo palmas, responde: “Ah, acredite: não é. É mais tipo funk e blues eurasiano, com uma mensagem fantástica.” Sobre a tal mensagem fantástica, explica: “Esses garotos não estão dizendo nada que eu já não tenha ouvido antes.

Simplesmente são cheios de vinagre e gás. Muita raiva e, devo dizer, com um bocado de razão. São apenas alguns dos meus meninos se mostrando e fazendo beicinho.”35 A aceitação divina para a postura rebelde e raivosa de tais rapazes nos remete aos conceitos da pós‐modernidade sobre a validade e veracidade de todas as idéias, gostos e posturas. Não há absolutos. Nesse caso, parece que para Deus também não. Ele é capaz de se “entrosar” com qualquer tipo de atitude. Isso fica expresso quando Jesus reprova os julgamentos éticos e morais, qualificandoos uma como tentativa humana de firmar sua independência de Deus. Ele diz: “Ao optar por definir o que é bom e o que é mau, vocês buscam determinar seu próprio destino. Foi essa reviravolta que causou tanta dor.”36 “Você deve desistir de seu direito de decidir o que é bom e ruim e escolher viver apenas em mim.”37 Assim, qualquer postura ou procedimento que o homem decidir ter, Deus aceita.

O erro não está em agir mal, mas em julgar as ações. A sabedoria de Deus, personificada em uma mulher de nome Sophia,38 diz: “Julgar exige que você se considere superior a quem você julga.”39 Deus não nutre expectativas a respeito do homem. Por conhecer o futuro, Deus não tem necessidade de ter expectativas. Diz o Pai: “Por que teria uma expectativa diferente daquilo que eu já sei. Seria idiotice. E, além disso, como não a tenho, vocês nunca me desapontam.”40 A conseqüência disso é a sensação no homem de “um grande alívio, porque elimina qualquer exigência de comportamento,”41 explica Jesus.

Por não haver qualquer tipo de exigência de Deus sobre a humanidade, também não há qualquer tipo de reprovação ou condenação. Não há o que condenar. As conseqüências dos erros dos homens não transcendem essa vida, nem afetam mais que suas próprias experiências. O Pai explica: “Não preciso castigar as pessoas pelos pecados. O pecado é o próprio castigo, pois devora as pessoas por dentro.”42 O juízo de Deus nada tem a ver com punição, pois “julgar não é destruir, mas consertar as coisas.”43 Esse conserto, como já vimos, não tem relação com perdão e justificação, mas com a produção de um bom relacionamento.
O autor sugere que Deus vê a condenação como uma expressão de injustiça. O próprio Pai, ao falar de si, diz: “Não uso humilhação, nem culpa, nem condenação. Elas não produzem uma fagulha de plenitude ou de justiça e por isso foram pregadas em Jesus na cruz.”44

ENCARNAÇÃO E MORTE DA TRINDADE
Desconsiderando as Escrituras, além da história e da teologia dos primeiros séculos da igreja cristã e dos seus primeiros concílios, Young afeta a ortodoxia em relação à Divindade em alguns pontos que dão margem a grandes distorções. Em vista de Adão ter desvirtuado o relacionamento com Deus, as três pessoas da Trindade se puseram no processo de reverter tais danos. O Pai conta a Mack: “Em vez de varrer toda a Criação, arregaçamos as mangas e entramos no meio da bagunça. Foi o que fizemos em Jesus... Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos. Também optamos por abraçar as limitações que isso implicava. Mesmo que tenhamos estado sempre presentes nesse universo criado, então nos tornamos carne e sangue.”45 Com isso, o autor afirma que a encarnação envolveu não só o Filho, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo, os três encarnados no homem Jesus Cristo. No livro, não apenas Jesus apresenta as marcas da crucificação, mas as compartilha com o Pai. Mack, ao olhar para o Pai em sua aparição feminina, “notou as cicatrizes nos pulsos na negra, como as que agora presumia que Jesus também tinha nos dele. Ela permitiu que ele tocasse com ternura as cicatrizes, marcas de furos fundos.” Ao olhar para as marcas da cruz de Cristo, o Pai disse a Mack: “Nós estávamos lá, juntos.”46 Mais adiante Sophia alerta Mack: “Você não viu os ferimentos em Papai [o Pai] também?... Ele escolheu o caminho da cruz, onde a misericórdia triunfa sobre a justiça por causa do amor.”47 Essa perigosa afirmação, que contrapõe a misericórdia à justiça como se fossem inconciliáveis, também ressuscita uma antiga heresia de nome “patripassianismo” que
propõe que o Pai sofreu a morte na cruz. A diferença entre essa modelo de patripassianismo e o antigo está no fato de o antigo propor a existência de uma só pessoa divina que se mostra de modos diferentes, enquanto o modelo do livro propõe a encarnação do Pai junto com o Filho no homem Jesus Cristo.

TEODICÉIA E TEÍSMO ABERTO
Teodicéia é o campo da Teologia que lida com a existência de um Deus bom diante da realidade do mal, de modo a defender a “justiça de Deus”. Young se propõe a isso. Para ele, Deus não é culpado por nenhum mal. Apesar de acertar nessa tese, o erro de Young está em justificar Deus tirando‐o da jurisdição onde o mal se apresenta. Quando Mack questiona o motivo pelo qual sua filha teve que morrer, ouve a seguinte explicação: “Ela não teve, Mackenzie. Isso não foi nenhum plano de Papai [o Pai]. Papai nunca precisou do mal para realizar seus propósitos. Foram vocês, humanos, que abraçaram o mal, e Papai respondeu com bondade.”48 Apesar de ser verdade que o mal é uma ação de responsabilidade do homem pecador, o motivo apresentado por Young para defender a justiça de Deus diante da maldade do mundo é sua “falta de soberania”. Ao dizer que Deus não planejou a morte da menina, a inferência é que “Deus não esta no controle”. Coisas acontecem sem Deus ter planejado ou controlado, ao passo que eventos planejados por ele esbarram nos desejos e atos pecaminosos de homens que frustram os planos divinos. Deste modo, Deus não é responsável pelo mal, mas também não é soberano sobre a criação. Por isso, o Pai diz a Mack: “Eu crio um bem incrível a partir de tragédias indescritíveis, mas isso não significa que as orquestre. Nunca pense que o fato de eu usar algo para um bem maior significa que eu o provoquei ou que preciso dele para realizar meus propósitos.”49

A justificação de Deus por meio da usurpação da sua soberania, além de errada, leva a um problema ainda maior: o Teísmo Aberto. Este nada mais é que uma forma de Teodicéia levada até as últimas conseqüências. Ensina que se Deus limita no uso de atributos como onipotência50 e onisciência51 a fim de resguardar a liberdade humana. Por isso, o Pai diz a Mack: “Nós nos limitamos por respeito a você... Os relacionamentos não têm nada a ver com poder. Nunca! E um modo de evitar a vontade de exercer poder é escolher se limitar e servir.”52 “Nós respeitamos cuidadosamente as suas escolhas e por isso trabalhamos dentro dos seus sistemas, ao mesmo tempo que procuramos libertá‐los deles. A Criação foi levada por um caminho muito diferente daquele que desejávamos.”53 Jesus concorda com o Pai e diz: “Já notou que, mesmo que me chamem de Senhor e Rei, eu realmente nunca agi desse modo com vocês? Nunca assumi o controle de suas escolhas nem os obriguei a fazer nada, mesmo quando o que estavam fazendo era destrutivo para vocês mesmos e para os outros?... Forçar minha vontade sobre vocês é exatamente o que o amor não faz.”54 Sob esse olhar o Pai une a Teodicéia ao Teísmo Aberto e defende sua justiça e amor diante do mal baseado na sua autolimitação e no respeito à liberdade do homem, explicando: “Todo o mal decorre da independência e a independência foi a escolha que vocês fizeram. Se fosse simples anular todas as escolhas de independência, o mundo que você conhece deixaria de existir e o amor não teria significado. O mundo não é um playground onde eu mantenho todos os meus filhos livres do mal. O mal é o caos, mas não tem a palavra final. Agora ele toca todos que eu amo, os que me seguem e os que não me seguem. Se eu eliminar as conseqüências das escolhas das pessoas, destruo a possibilidade do amor. O amor forçado não é amor. ”55

O QUE AS ESCRITURAS ENSINAM?
Em contraposição às convicções de Young expostas no livro “A Cabana”, as Escrituras afirmam que:


a) As Escrituras foram inspiradas por Deus (2Tm 3.16), foram dadas pela vontade de Deus através do Espírito Santo (2Pe 1.20,21), não contêm erros (Jo 10.35) e apresentam Cristo a fim de salvar o perdido (Jo 20.30,31; Rm 1.16; 10.17; 1Co 1.21), de modo que desconhecer ou desprezar as Escrituras constitui um erro (Mt 22.29).


b) Jesus é o fundador da Igreja (Mt 16.18; At 20.28). Ela tem a função de defender e proclamar a verdade (1Tm 3.15; 1Pe 2.9) e promover a glória de Deus (Ef 3.21). Jesus, o dono de toda autoridade (Mt 28.18), concedeu aos discípulos a autoridade de pregar a verdade e expandir a Igreja em obediência ao Senhor (Mt 28.19,20). Visto que a autoridade não é má e que é instituída por Deus (Rm 13.1,2), a Igreja também foi formada por ele com autoridades para que houvesse edificação, correção e ensino (2Co 10.8; 13.10; Tt 2.15), assim como o lar (1Tm 2.12; 3.4‐5).


c) A salvação e a reconciliação com Deus se dão única e tão somente pela fé em Cristo (Jo 3.36; 6.47; Rm 5.1; 8.1; Ef 1.7). Não há outros meios de ter comunhão com Deus (Jo 14.6; At 4.12; 1Tm 2.5) e não há meios de crer em Cristo a não ser por meio da pregação do Evangelho (Rm 10.13‐15). Quem não crê em Cristo como salvador permanece perdido e sobre ele permanece o juízo de Deus (Jo 3.18,36). O resultado de não crer em Cristo é ser julgado por Deus e condenado ao afastamento e sofrimento eternos (Dn 12.2; Mt 7.23; 8.12; Hb 9.27).


d) Há um padrão de conduta que deve ser seguido por aqueles que querem ter comunhão com Deus (1Pe 1.16). A busca por esse padrão é tanto o objetivo e o dever dos salvos (Jo 8.11; Rm 12.1‐2; Gl 5.22‐15; Fp 2.12; 1Jo 2.1), quanto a prova do seu amor por Cristo (Jo 14.21; 1Jo 4.21). Deus disciplina seus filhos que se desviam da busca da santidade a fim de voltarem a servi‐lo (1Co 11.32; Hb 12.4‐10).


e) Cristo, ele apenas, encarnou para efetuar a obra da salvação recebendo nele o castigo pelo pecado dos que crêem (Jo 1.14; Fp 2.5‐9; 1Tm 2.5). As outras pessoas da Trindade 53 Ibidem, p. 113. interagiram na obra da salvação “não encarnados” na pessoa do homem Jesus (Mt 1.20; 3.16,17; 16.17; 23.9; Mc 15.34; Jo 14.26; 16.7).


f) Deus é plenamente soberano sobre toda a história e sobre toda a criação (Sl 103.19; Dn 4.17,35; Mt 10.29). Sua vontade é sempre efetivada pelos seus atos (Jó 42.2; Is 14.24,27; Ef 1.11). A soberania divina se faz sentir sobre a humanidade (Pv 21.1; At 4.27,28; Rm 9.15‐18) e a vontade do Senhor não é limitada pela vontade humana (Sl 33.10). Os decretos do Senhor são retos e não há qualquer injustiça em Deus, na sua vontade e na aplicação do seu poder (Jó 40.1‐4; Rm 9.14,19‐24).

CONCLUSÃO
Essa breve análise demonstra o quanto William Paul Young, em sua obra “A Cabana”, está distante de ser um pregador da verdade ou um instrumento de propagação do conhecimento sobre Deus e sobre o relacionamento com ele. O fato de “A Cabana” encontrar acolhida dentro das igrejas cristãs revela duas tristes verdades: em primeiro lugar, a falta de orientação bíblica adequada por parte dos pastores e professores das Escrituras e, em segundo lugar, o pernicioso desejo de um relacionamento com Deus que não envolva compromisso, autonegação, luta contra o pecado e busca de santidade.

Além disso, percebe‐se claramente a necessidade que os cristãos têm de avaliar os ensinos de pessoas famosas e destacadas a fim de não serem alvos de erros baseados na confiança em tais personalidades. O fato de Michael W. Smith, músico e autor de canções bonitas, apesar de repetitivas e com uma teologia rasa, dar seu aval ao livro, impresso na contracapa da edição em português, é de fato assustador. Entretanto, mais assustador ainda é ler a declaração de um escritor proeminente como Eugene Peterson, ao dar seu apoio a uma obra tão perigosa quanto estranha aos ensinos bíblicos.56

Nossa oração ao Senhor é que o amor dos cristãos pela Palavra de Deus e pela santidade prevaleça sobre o desejo de um sistema que autorize e encoraje vidas sem submissão a Cristo.

Também que pastores e professores das Escrituras se afadiguem ainda mais na exposição da verdade do Evangelho que rende a Deus todo louvor, que apresenta Cristo como único meio e salvação e que ensina ao homem sua posição diante do Deus eterno e Todo‐Poderoso.

Pr. Thomas Tronco dos Santos
A Cabana Caiu


Pastor Carlos Augusto Lopes
Teólogo